quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Semiologia Teatral - Análise do espetáculo: Taniko – O rito que veio do mar (Teatro Oficina) Análise do espetáculo: Taniko – O rito que veio do mar

Por meio de anotações feitas ao assistir a peça pude perceber como se relacionam os signos durante o desenrolar do enredo. A primeira evidencia que destaco por meio dessas anotações é o trabalho corporal e vocal apresentado pelos atores. A constante movimentação em cena e as variações de velocidade possibilitam perceber uma preparação para o trabalho, demonstrando uma aquisição de técnica provavelmente adquirida por meio de treinamento físico. Para fazer uma análise semiótica do espetáculo divido os signos da seguinte maneira: linguísticos e não linguísticos.
NÃO LINGUÍSTICOS
A análise dos signos não linguísticos começa por meio das culturas abordadas na peça: cultura japonesa e brasileira. No início do espetáculo o primeiro signo já é dado aos espectadores por meio do figurino, que foram feitos nas cores branca e vermelha. Essas cores representam a bandeira do Japão. Contudo, não foi apenas esse signo da cultura japonesa que o grupo Oficina utilizou. Há também a máscara que representa o teatro Nô utilizada por uma das atrizes. Na cena inicial, a japonesa entra com seu rosto encobrido por uma máscara oriental, só quando começa o diálogo ela retira a máscara do rosto e fica segurando em suas mãos. Outro signo da cultura oriental são os movimentos de caminhada. Os atores utilizam passos curtos e contidos, contudo, precisos, representando o modo de movimentar-se das gueixas japonesas.
A outra cultura abordada no espetáculo é a brasileira. Durante a navegação para o Brasil, um dos japoneses fica doente, sendo obrigado a passar pela experiência do rito do mar: a pessoa doente deve ser jogada ao mar e abandonada para morrer. Contudo, o garoto japonês prefere morrer a facadas antes de ser jogado ao mar. Após essa cena, seu mestre fica triste com o acontecimento e fala com o resto dos navegantes para invocarem os deuses para ressuscitar o garoto. Esses deuses são entidades e orixás da Umbanda, religião afro-brasileira. Esse signo é o mais marcante da peça. Ao chamarem o orixá Oxum para ajudar a ressuscitar o menino, entra uma negra com figurino todo em cor amarela. Essa cor é outro signo da religião umbandista, pois a cor do orixá Oxum é amarela.
Outra evidência que enfatizo é o barquinho de papel utilizado pelo menino. Ao movimentar o barquinho onduladamente, o ator dá ao espectador a possibilidade de ler aquele objeto como navegação, pois seu movimento representa um barco em alto mar navegando. Concomitantemente outro objeto que dá significado de navegação é a plataforma de madeira onde todos os atores sobem para representar um navio.

LINGUÍSTICOS
O espetáculo nos possibilita três possibilidades de signos linguísticos: narrativas, diálogos e canto. Há uma presença de narrativa muito forte durante toda a peça, quase sempre acompanhada de música. Na cena em que os japoneses saem a navegar cada lugar que eles chegam cantam narrando fatos e acontecimentos que presenciam. Outro signo acontece na evocação dos deuses: os atores começam a cantar “rezas afro-brasileira” para chamar os orixás e ao mesmo tempo vão narrando alguns acontecimentos sobre a morte do menino japonês. Essa cena é praticamente prescindida por pelas rezas e narrativas. Os diálogos acontecem mais no início da peça, entre mãe, filho e mestre japoneses. Após essa cena a peça é permeada por narrativas seguidas de canto, direcionando o espetáculo para o rito.
Essa análise me possibilitou uma reflexão principalmente referente aos signos não linguísticos que ficaram mais evidentes durante minhas anotações. Objetos simbolizando algo além de sua significação cotidiana foi mais perceptível, chamou mais a atenção durante o espetáculo. O que não era dito deixava o espectador dar significado, tornando o espetáculo mais interessante.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Semiologia Teatral

A semiologia é originada do signo. Todo e qualquer objeto pode ser representado por outro, sendo organizado verbalmente ou não. Por exemplo, uma cadeira pode ter vários significados em cena dependendo do sentido que lhe é dado. Se colocarmos um ator em cima da cadeira em cena simbolizando um suicídio, essa cadeira poderá representar um precipício, sendo deslocada de sua representação original que seria utilizada para sentar.
Isso dependerá na maioria das vezes da significação que é atribuída ao objeto. Cabe ressaltar que o significado depende da imagem que o espectador atribui ao objeto, de sua leitura, seu entendimento.
O signo – objeto segue a seguinte estrutura de acordo com Pierce:
Ícone: assemelha-se com a representação do objeto;
Índice: relaciona-se diretamente com o objeto;
Símbolo: convenção com o objeto;
Essa estrutura possibilita estabelecer uma linguagem verbal ou não com o objeto. Nessa reflexão o ícone significa um signo aberto para criação, para experimentação, espontaneidade, etc. Um ator ao construir uma representação está livre para criar possibilidades que se aproximem da representação do cotidiano, assemelhando-se com ele. O índice por sua vez, tem relação direta com o objeto, apropriando-se do mesmo, adquirindo conhecimento por meio desse objeto. Por exemplo, um ator que passa anos experimentando poéticas teatrais apropria-se desse conhecimento para poder descobrir novas possibilidades de movimento, resultando no terceiro signo: o símbolo, que possibilita a prática dessa apropriação do objeto.
Essa estrutura signo – objeto se entrelaça, servindo para trabalhar linguagem, verbal ou não. Por meio da semiótica podemos pensar em hipóteses de significado para o objeto que se trabalha. Não definindo conceitos pré-estabelecidos a ele, possibilitando sempre uma transformação do signo.