segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Um Ritual Mecânico, Vozes - Ecos e Espaços – Imagens Cerimônia

Um rito, uma cerimônia que engloba guerras, catástrofes, sofrimentos e mortes através da história transposta por imagens. Quando falo em imagens referenciando Kantor, explano a idéia de um teatro sem enredo, sem um fio condutor da ação dramática. O drama está exposto na cerimônia. O ator perde o destaque como figura principal dentro da obra e passa a ter valor assim como os objetos que a constituem, como um retrato pintado ou uma fotografia. O enredo vai dando espaço a quadros que se movimentam. O drama grotesco é visto a partir da história, a história colocada em cena sem uma estrutura dramática de inicio, meio e fim. Os atores não representam, apenas manifestam estados dentro dos quadros e dialogam com os objetos. A realidade só existe a partir da ilusão, por isso a importância da repetição dentro de sua obra. A repetição é um eco dentro do ser humano, assim como a fotografia e retratos. A história se repete, transcende a realidade. Os objetos utilizados nos quadros não tinham a obrigatoriedade de simbolizar sua realidade material, ou seja, uma máquina fotográfica antiga foi utilizada em cena como metralhadora para aniquilar soldados. O teatro da morte, trabalho mais relevante de Kantor coloca em cena atores e bonecos simbolizando a morte. Bonecos fazendo parte dos corpos dos atores, que por sua vez assemelham-se aos bonecos. A ação é completamente repetitiva e a expressão dos atores mórbida, simbolizando a morte. Um teatro onde a “hierarquia entre homem e coisa é relativizada”(Lehmann, p. 122).
Gruber por sua vez propõe uma “desdramatização” do drama (Lehmann, p. 123). A ação dramática assim como dialogada em Kantor sofre transformações, porém em Gruber a prevalecência é que os atores não dialogam em cena, narram estados. A temporalidade e o espaço sobrepõem-se sobre o ator. Os atores em cena não se comunicam diretamente uns com os outros, mas digladiam discursivamente, fazendo um a competição de palavras (Lehmann, p.124) substituindo toda uma tensão que a ação dramática constrói ao longo do enredo, transpassando-a para o dialogo, com entonações, sentimentalismo na voz, sobrecarregando a fala de sentidos e estado de espírito. Aqui podemos ver o texto como elemento principal da cena, porém sem seu caráter dramático. As ações físicas são substituídas por diálogos, carregados de tensões que prendem a atenção do espectador.
Wilson propõe um teatro em câmera lenta. As ações executadas pelos atores sofrem um desaceleramento, propondo que os espectadores imaginem a cena vista com uma lupa, decorrente do percurso lento do ator. Essa lentidão relacionava o ator objeto com o espaço e tempo. Objeto pois, significava algo relacionado com o espaço, através de luzes que criavam ilusões aos espectadores, fumaças que formavam imagens distintas e delimitavam percursos distintos aos atores. Uma obra cênica ilusória, fazendo com que a imaginação do espectador, através de todos elementos de transformação causassem um estranhamento.
Kantor, Gruber e Wilson propõe transformar a ação dramática em quadros, cada qual com sua concepção, porém muito similares. As cenas em formas de quadros, propondo um “retrato”, algo vivo, presente e não narrado como no drama. Os elementos pós-dramáticos como a re-significação de símbolos marcados culturalmente causam um estranhamento ao espectador, uma resistência e ao mesmo tempo entrega. Enfatizando a palavra entrega justamente pela estranheza causada pela obra. Em kantor, por exemplo, como citado acima, uma máquina fotográfica simboliza uma metralhadora.
Gruber vai propor uma idolatria ao texto e uma não ação dramática. Os diálogos cheios de carga dramática são substituídos por estados e emoções, em um corpo estático. A voz, sua propagação dentro de um espaço cênico é o rito propriamente dito. O que aparece em cena não é uma história narrada, e sim o real, o ator sem representação mostrando toda sua dor. O espectador comunga da obra, do ritual, da cerimônia juntamente com o sofrimento ou o estado de espírito demonstrado pelo ator.
Wilson vai propõe um choque ainda maior, uma ilusão em cena. Atores trabalhando com movimentos de desaceleração, com a ação dramática sendo transformada e objetivada pela iluminação, fumaças transcendendo seu sentido material e criando imagens , um aparato mágico dentro de um espetáculo de elementos.O palco italiano é substituído por espaços alternativos, transformando assim a ação dramática em ritual cerimonial. Os espectadores não percebem enredos lineares, com inicio, meio e fim, mas sim elementos estéticos, situação e quadros que causam uma proximidade com a obra. Essa proximidade causada pelo não habitual, pela ação dramática “mastigada” e dada aos espectadores da maneira mais simples.







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